"Reze por aqueles que com suas malas pink e seus pijamas de bolinha não conseguirão aprender a se desapegar das coisas que só fazem peso na nossa mochila e também das coisa que só fazem peso na nossa vida e nos prendem como âncoras de chumbo nos impedindo de perseguir nossos senderos.
Reze por aqueles que sem necessidade despacharam suas mochilas carregadas de malas pink e de pijamas de bolinhas pois conseguirão aprender que carregamos muitas coisas supérfluas, desnecessárias mesmo, nessa nossa longa jornada e que devemos cuidar para que elas venham a ocupar o lugar das coisas que realmente importam, a solidariedade, o companheirismo a caridade.
Reze por aqueles que no conforto das vans não trouxeram de santiago um só bolha, sejam elas em forma de bolinhas ou de coraçãozinhos, pois perderam a oportunidade de conhecer a sua dor e quando nos dói ver o peregrino companheiro debruçado ao cair da tarde procurando guiar uma agulha dentro de uma bolha carregando nas suas costas uma linha mergulhada no Betadine para que ela durante a noite drene toda a sua água.
Reze por aqueles bebendo muito não puderam se condoer com o peregrino companheiro que teve que abandonar temporariamente o caminho por uma luxação nos joelhos, que lá chamamos de rodillas, ou uma dolorosa inflamação nos tendões, ou uma perversa dor nas costas.
Reze por aqueles falando açto não ouviram a canção de uma nota só que até hoje ainda ouço do bater do cajado no duro piso das carreteras.
Reze por aqueles que chegando tarde não viram o sol nascer na manhã do dia seguinte nem puderam acompanhar a luz chegando devagarinho enquanto o sol insiste em ficar mais um pouquinho, nem viram os velhos tocando o gado do curral para o pasto e do pasto para o curral para depois cuidarem, e só os velhos fazem isso, os jovens com raríssimas exceções, tão raras que quando as via aplaudia, das suas hortas, que lhes dão o sustento para os dias de inverno.
Reze também por aqueles que correndo para cumprir mais uma etapa deixaram de dividir a sua vida com o peregrino ao lado e na sua pressa não conseguiram ouvir nem enxergar tampouco tocar ou sentir a presença dos anjos que Ele lhes enviou para que reduzissem a velocidade da sua vida, para que deixassem a vida te levar, mesmo que por alguns poucos quilômetros pois tiveram que carregar sozinhos nas suas mochilas as suas preocupações e os seus problemas, e que quando foram convocados para serem os anjos do dia, simplesmente se omitiram de ouvir e de compartir com o peregrino perdido as setas amarelas que carregava. Aqueles que dariam o exemplo e a orientação aos problemas que ele solitário carregava na sua mochila.
Reze uma prece a mais a Santiago para que ele os proteja e proteja a todos nós e o caminho não morrerá nunca e será sempre um passo a mais um passo a menos a Santiago".
Um fraternal abraço.
Graciano Rattis de Valinhos