"Nem eu nem ninguém pode viajar essa estrada por você. Você deve atravessá-la sozinho"

Walt Whitman

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 01 - Marco divisório da Provincia de Palencia

Esta etapa atravessa a “Meseta Castellana” pelas províncias de Burgos, Palencia e León, considerada por muitos peregrinos como a mais “pesada e cansativa”. Seus atributos desencorajadores advêm do fato de que a região é formada praticamente por campos e planícies, com existências de poucos arbustos em sua topografia. Então, a depender da estação climática, caminhar sob um sol forte e muito calor, a etapa se tornara arrastada e difícil.

“[...] a caminhada entre Carrión de los Condes e Sahagún foi uma das mais árduas e terrivelmente monótonas que já fiz na vida. Caminhava através da meseta plana. Quilômetros e quilômetros de trigo e milharais me cercavam.” Shirley MacLaine.

Após cruzar a ponte sobre o Rio Pisuerga, adentra-se na província de Palencia. Mas antes uma construção retangular chama a atenção dos peregrinos mais atentos. É a Eremita de San Nicolás del Puente Itero, do século XIII que serve como albergue e promove a noite o ritual do lava-pés em seus hospedes (Fotos 01 a 05)

[...] Eram quase cinco horas da tarde quando viu ao longe o singelo edifício de São Nicolau, do qual muitos peregrinos passam ao longo, sem saber de sua curiosa liturgia. O pequeno albergue é provavelmente o mais cativante do Caminho. Consta que suas origens remontam ao século XIII e teria sido fundado pela Ordem de Malta. Durante séculos ficou abandonado, vindo a ser restaurado pela Confraria de São Tiago” A. J .Barros. p.296

Em Boadilla del Camino, pequeníssimo pueblo, próximo a Igreja de Santa Maria, se encontra o melhor exemplo de obeliscos do século XV, uma coluna em estilo gótico tardio, o rollo jurisdicional de Castilla, simbolizava o poder jurídico na comarca e servia para aprisionar os réus. (Fotos 06 a 09). É também nesse povoado, que o peregrino encontra um dos refúgios mais acolhedor da rota; “[...] um verdadeiro oásis de descanso e serenidade. Excelentes instalações, boas camas, banho quente e um lindo jardim interno entre as construções medievais que foram recuperadas e restauradas para dar lugar às atuais instalações da hospedaria e de um restaurante anexo”, como escreveu o Sérgio da família Brito. (Foto 10).

Entre Boadilla e o povoado de Frómista (Palencia) o caminho margeia o extenso canal de irrigação, no qual atravessamos um sistema de eclusas, iniciada por Carlos IV, em 1791 e concluída em 1849. O canal de Castilla era usado como um sistema de transporte nas quais mulas amarradas, de cada lado do canal, puxava as barcaças em um trajeto de 207 quilômetros, no século XVIII. (Fotos 16 a 19).

Na passagem para Carrión de los Condes, o peregrino que vê também no seu processo de peregrinação uma oportunidade de elevação cultural e de acréscimos aos conhecimentos históricos, deve fazer uma ligeira visita as cidades de Fromísta e de Villalcázar de Sirga.

Em Fromísta o peregrino encontra um dos mais antigos albergues do caminho, funcionando há mais de 400 anos. Nessa cidade, convém deter-se um pouco mais. Foi um importante centro agrícola romano, chamado Frumesta, pela sua abundância em grãos. Nela encontramos entre as igrejas, na parte mais alta da cidade a Eremita de Santa Maria del Castillo e a de San Martin, um dos belos exemplos do românico do Caminho, e em Villalcázar de Sirga, encontramos a Igreja de La Virgen Blanca, imponente construção do século XI, com ampla escadaria frontal. O portal norte é ornamentado com belas esculturas em estilo românico (Fotos 20 a 23).

[...] A Igreja de San Martin de Fromista estava mais para um templo de iniciados do que para uma igreja cristã. Erigida em 1066, suas três naves paralelas são cortadas por um transepto sobre o qual o signo octogonal domina o ambiente. Toda a sua construção é um mistério e o simbolismo do teto sugere a criação de códigos e significados”. A. J. Barros, p.309 (Foto 24)

Carrión de los Condes, Sahagún, a primeira grande cidade do Caminho na província de León, nela se observa outro belo exemplo da arte românica do Caminho, a Igreja de San Lorenzo, formando bandas horizontais o axadrezado que, inaugurado em Jaca, chegaria quase a ser um sinal de identidade da arte da peregrinação. Pode ser considerada um dos protótipos da arte medieval espanhola, (Fotos 25 a 29)

E Mansilla de las Mulas (vide postagens anteriores) onde está ainda em pé uma parte das muralhas medievais. Todas são cidades profundamente ligadas à peregrinação e merecem uma visita (Fotos 30 a 34), assim como a pequena Bercianos del Real Camino, com um dos albergues mais simples do caminho, mas que procura superar a sua diferença através do acolhimento, entre o jantar e a contemplação de um belo por do sol compartilhados (35 a 38).

Referencias bibliográficas.

BARROS, A. J. O enigma de Compostela. São Paulo: Geração Editorial, 2009.

BRITO, Sergio Jose de. O caminho de Santiago de Compostela: Rota do Novo Milênio. Curitiba: 2000.

MACLAINE, Shirley. O Caminho: uma jornada do espírito. Tradução de Renata Catanhede Amarante. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p.145

I - Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 02 - Eremita de San Nicolás del Puente Itero

Foto 03 - Tipos de informações encontradas no Caminho de Santiago de Compostela

Foto 04 - Paisagem das "Meseta Castellana"

Foto 05 - "Andaderos" paralelos as "Carreteras" na Meseta Castellana

II - Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 06 - Ponte sobre o Rio Pisuerga - Divisa entre as províncias de Burgos e Palencia

Foto 07 - Vista de Boadilla del Canino

Foto 08 - Vista da Igreja da la Asunción em Boadilla del Canino
Foto 09 - Igreja de la Asunción e Rollo Gótico em Boadilla del Canino

Foto 10 - Jardim interno do Albergue En el Canino - Boadilla

III - Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 11 - Portão de entrada do Albergue En el Canino - Boadilla

Foto 12 - Casa principal - Albergue En el Canino - Boadilla

Foto 13 - Instalações dos dormitórios e jardim interno do Albergue En el Canino - Boadilla

Foto 14 - Refeitório do Albergue En el Canino - Boadilla

Foto 15 - Sala de Estar do Albergue En el Canino - Boadilla

Albergue En el Camino - Boadilla

O refúgio é mantido por uma família, que transformou sua casa de veraneio em uma hospedaria para peregrinos. A manutenção é tarefa de todos, pai, mãe e filhos. Tem como referencia o anfitrião Dudu, um dos membros da família que acolhe todos os peregrinos com a máxima atenção e dispensa um carinho especial para os brasileiros.

Um espaço no qual o velho ditado: “As aparências enganam” é colocado em cheque logo na primeira vista. Um velho portão, reciclado de demolição, é a porta de entrada para as instalações internas, na qual deslumbramos um imenso jardim ornamentado com flores e obras de artes.

A área do Albergue "En el Canino", além do jardim e da excelente instalação que compõe os dormitórios, existe a casa principal que funciona como recepção e sala de refeições, cujas salas são decoradas com inúmeras fotografias e pinturas. No refeitório as telas assinadas por Dona Begoña, matriarca da família, ornamenta o ambiente familiar, alegre e acolhedor. (Fotos 11 a 15)

IV - Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 16 - Canal de Castilla - Boadilla / Fromista

Foto 17 - Canal de Castilla - Fromista

Foto 18 - Eclusas do Canal de Castilla - Fromista

Foto 19 - Informações sobre o Canal de Castilla - Fromista

V - Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 20 - Vista panorâmica de Villalcazar de Sirga

Foto 21 - Igreja de Santa Maria la Blanca - Villalcazar de Sirga

Foto 22 - Igreja de Santa Maria la Blanca - Villalcazar de Sirgo

Foto 23 - Igreja de Santa María del Castillo - Flomísta

Foto 24 - Igreja de San Martin - Fromista

VI - Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 25 - Igreja de Santa Maria de Carrion de los Condes

Foto 26 - Carrion de los Condes

Foto 27 - Carrion de los Condes

Foto 28 - Real Monastério de San Zolio - Carrion de los Condes

Foto 29 - Igreja de San Lorenzo - Sahagún

VII - Palencia: etapa entre Burgos e León

Foto 30 - Calzadilla de la Cueza

Foto 31 - Albergue de Calzadilla de la Cueza

Foto 32 - Terradillos de los Templários

Foto 33 - Igreja de Terradillos de los Templários

Foto 34 - Albergue de Terradillos de los Templários

VIII - Palencia: etapa entre Burgos e León

Bercianos del Real Camino

Foto 35 - Vista de Bercianos del Real Camino
Foto 36 - Albergue de Bercianos

Foto 37 - jantar comunitário em Bercianos

Foto 38 - Fim da tarde de Bercianos

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Formigas com molho de pimenta



Fotos: Molho de tucupi preto, pimentas e formigas

No programa Globo Rural de 30.01.2011, em sua reportagem sobre a culinária típica amazonense, divulgou que além dos ingredientes considerados tradicionais como o peixe, a mandioca e a pimenta, existem também um ingrediente, nada peculiar, na exótica culinária de São Gabriel da Cachoeira, a formiga.

Considerado um dos condimentos usado pelos indígenas amazonense, a saúva e a maniuara, uma espécie de cupim, também é utilizada na culinária venezuelana e colombiana, principalmente nos molhos de pimenta, como herança culinária desses povos que habitam as áreas do Parque Nacional Canaima, localidade onde se encontra o famoso Monte Roraima.

Ao visitar o país do então Sr. Hugo Chaves, os turistas, desejosos e apreciadores dos artesanatos e outros regalos típicos local, podem encontras em Pacaraima, primeira cidade brasileira após a aduana venezuelana, ou nas cidades venezuelana de Santa Elena e San Francisco de Yuruani, uma variedade de lembranças espalhadas nas diversas tendas que margeia a carretera. São produtos que vão das pinturas em telas, entalhos em pedras às bijuterias com sementes e madeiras, etc. Assim como as exóticas conservas de “pimentas ao molho de tucupi preto e formigas”, em vasilhames de diversos tamanhos, ao gosto e condições financeiras do freguês.

As formigas são crocantes e seu sabor aproxima, para alguns, ao hortelã, a gengibre, a menta ou ao cravo. Tem presença em diversos pratos da culinária local ou nos molhos de pimenta. Ao serem mastigadas e trituradas, explodem num misto de perfume adocicado e de leve acidez. Com certeza é o sabor do acido fórmico dessas espécies de insetos. Mas como diz o ditado: “Comer formigas é bom para vista”; afinal... ninguém nunca viu nenhum tamanduá de óculos.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Monte Roraima "Expedição"



Mais uma filmagem sobre o Monte Roraima. Uma aventura possível.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Festa de Iemanjá - Rio Vermelho - Salvador/Bahia


Foto: Procissão de N. Sra. dos Mares de Amaralina chegando ao Rio Vermelho. 1930
Arquivo Biblioteca Juracy Magalhães Júnior.
Livro "O Rio Vermelho e suas tradições" página 31

Iemanjá

Divindade das águas, tida como mãe de todos ou outros orixás. Na África, era um rio que para fugir de seu marido desembocou no mar, onde passou a viver junto de sua mãe Okun. No Brasil, é cultuada sobretudo no mar, sendo associada com outros “encantados” das águas, de origem indígena. Daí ser louvada também como a Rainha do Mar, Janaína, Mãe D´Água, Sereia, Iara, entre outras. No rito Jeje, a divindade da água salgada é Abe, representada pela estrela guia que caiu no mar. No rito angola, o mar é representado por Mãe Danda (Dandalunda ou Quissimbe). Devido à relação de Iemanjá com a maternidade, seu culto no Brasil foi aproximado ao de Nossa Senhora em suas várias louvações; mais precisamente, N.Sra. da Conceição e N. Sra. dos Navegantes.

A festa do Rio Vermelho é uma tradição mantida por iniciativa de alguns pescadores daquela localidade que se uniram como forma de não deixar que sua comemoração ou festa caísse no esquecimento como aconteceu com as das outras localidades como da Barra e da Amaralina, conforme conta Licídio Lopes, no seu livro “O Rio Vermelho e suas tradições”.

[...] Juntaram-se alguns pescadores comentando, quando um, por nome Alípio, que era apelidado Alípio Capenga (tratavam assim porque ele tinha uma perna paralítica), conversando com outros disse: Precisamos fazer uma festa para nós, não podemos ficar assim, já não podemos tomar parte nas festas do Rio Vermelho que os brancos tomaram conta. Uma hora dessa acaba, como as da Barra e de Amaralina; nós que temos responsabilidade com o Rio Vermelho, vamos fazer nossa festa separado. Os outros perguntaram: “Como?” Ele respondeu: “No dia 2 de fevereiro, que é dia de Nossa Senhora das Candeias, vamos nos organizar e dar um presente a Mãe d`Água”. Os outros aprovaram. Foi assim que nasceu a idéia do presente a Iemanjá, que hoje é uma das maiores festas populares da Bahia.

Os primeiros responsáveis pelas festas foram três pescadores: Alípio Capenga, Saturnino apelidado de Salu, e Florentino apelidado de Fulô e também Olavo e Clemente Tanajura, sendo que os dois últimos não eram pescadores, eram peixeiros, negociavam com peixe. Estes cinco, auxiliados pelos outros pescadores, conseguiram uma caixinha de papelão, cada um botou seu presente que constava de perfumes, pós-de-arroz, sabonetes, espelhos e outras coisas, botaram a caixinha dentro de um balaio, enfeitaram com muitas flores e fitas, fizeram muitos pedidos para Iemanjá ajudar, botaram no saveiro com bandeiras de papel, onde embarcaram os encarregados do presente. Outras embarcações levaram outros pescadores e as famílias, e os amigos que quiseram embarcar; foram batendo palmas, cantando sambas e soltando muitos foguetes. Quando chegaram no lugar apropriado, o saveiro que levava os presentes, que ia na frente dos outros, estancou a carreira, botaram as flores no mesmo lugar. Voltaram, chegaram em terra, fizeram um samba de roda, se divertiram até alta noite. Assim realizou-se o primeiro presente a Iemanjá no Rio Vermelho*

(*) Os primeiros presentes de Iemanjá foram realizados no bairro do Rio Vermelho, durante a década de 20.

LOPES, Licídio. Rio Vermelho e suas tradições; memórias. Salvador. Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1984, página 60.

Bill Dan e a Arte de Equilibrar Pedras

II - A Arte de Empilhar Pedras - Monte Roraima







O Rock Balancing (Equilíbrio de Pedras) é uma arte, disciplina ou simplesmente um hobby, dependendo da intenção de quem pratica. Existem dados da sua manifestação desde o neolítico. O majestoso circulo Stonehenge, na Inglaterra, é um belo exemplo dessas pedras empilhadas; porém existem exemplares dessa cultura por todas as regiões do Planeta Terra. No Monte Roraima, a ação constante dos ventos e das chuvas ajudaram a esculpir, nas suas rochas, inúmeros exemplos dessa espécie de arte, que ganharam múltiplos contornos, estimulando a imaginação humana. Como arte, Bill Dan ajudou a popularizar o rock balancing ao redor do mundo.