Esta etapa atravessa a “Meseta Castellana” pelas províncias de Burgos, Palencia e León, considerada por muitos peregrinos como a mais “pesada e cansativa”. Seus atributos desencorajadores advêm do fato de que a região é formada praticamente por campos e planícies, com existências de poucos arbustos em sua topografia. Então, a depender da estação climática, caminhar sob um sol forte e muito calor, a etapa se tornara arrastada e difícil.
“[...] a caminhada entre Carrión de los Condes e Sahagún foi uma das mais árduas e terrivelmente monótonas que já fiz na vida. Caminhava através da meseta plana. Quilômetros e quilômetros de trigo e milharais me cercavam.” Shirley MacLaine.
Após cruzar a ponte sobre o Rio Pisuerga, adentra-se na província de Palencia. Mas antes uma construção retangular chama a atenção dos peregrinos mais atentos. É a Eremita de San Nicolás del Puente Itero, do século XIII que serve como albergue e promove a noite o ritual do lava-pés em seus hospedes (Fotos 01 a 05)
“[...] Eram quase cinco horas da tarde quando viu ao longe o singelo edifício de São Nicolau, do qual muitos peregrinos passam ao longo, sem saber de sua curiosa liturgia. O pequeno albergue é provavelmente o mais cativante do Caminho. Consta que suas origens remontam ao século XIII e teria sido fundado pela Ordem de Malta. Durante séculos ficou abandonado, vindo a ser restaurado pela Confraria de São Tiago” A. J .Barros. p.296
Em Boadilla del Camino, pequeníssimo pueblo, próximo a Igreja de Santa Maria, se encontra o melhor exemplo de obeliscos do século XV, uma coluna em estilo gótico tardio, o rollo jurisdicional de Castilla, simbolizava o poder jurídico na comarca e servia para aprisionar os réus. (Fotos 06 a 09). É também nesse povoado, que o peregrino encontra um dos refúgios mais acolhedor da rota; “[...] um verdadeiro oásis de descanso e serenidade. Excelentes instalações, boas camas, banho quente e um lindo jardim interno entre as construções medievais que foram recuperadas e restauradas para dar lugar às atuais instalações da hospedaria e de um restaurante anexo”, como escreveu o Sérgio da família Brito. (Foto 10).
Entre Boadilla e o povoado de Frómista (Palencia) o caminho margeia o extenso canal de irrigação, no qual atravessamos um sistema de eclusas, iniciada por Carlos IV, em 1791 e concluída em 1849. O canal de Castilla era usado como um sistema de transporte nas quais mulas amarradas, de cada lado do canal, puxava as barcaças em um trajeto de 207 quilômetros, no século XVIII. (Fotos 16 a 19).
Na passagem para Carrión de los Condes, o peregrino que vê também no seu processo de peregrinação uma oportunidade de elevação cultural e de acréscimos aos conhecimentos históricos, deve fazer uma ligeira visita as cidades de Fromísta e de Villalcázar de Sirga.
Em Fromísta o peregrino encontra um dos mais antigos albergues do caminho, funcionando há mais de 400 anos. Nessa cidade, convém deter-se um pouco mais. Foi um importante centro agrícola romano, chamado Frumesta, pela sua abundância em grãos. Nela encontramos entre as igrejas, na parte mais alta da cidade a Eremita de Santa Maria del Castillo e a de San Martin, um dos belos exemplos do românico do Caminho, e em Villalcázar de Sirga, encontramos a Igreja de La Virgen Blanca, imponente construção do século XI, com ampla escadaria frontal. O portal norte é ornamentado com belas esculturas em estilo românico (Fotos 20 a 23).
“[...] A Igreja de San Martin de Fromista estava mais para um templo de iniciados do que para uma igreja cristã. Erigida em 1066, suas três naves paralelas são cortadas por um transepto sobre o qual o signo octogonal domina o ambiente. Toda a sua construção é um mistério e o simbolismo do teto sugere a criação de códigos e significados”. A. J. Barros, p.309 (Foto 24)
Carrión de los Condes, Sahagún, a primeira grande cidade do Caminho na província de León, nela se observa outro belo exemplo da arte românica do Caminho, a Igreja de San Lorenzo, formando bandas horizontais o axadrezado que, inaugurado em Jaca, chegaria quase a ser um sinal de identidade da arte da peregrinação. Pode ser considerada um dos protótipos da arte medieval espanhola, (Fotos 25 a 29)
E Mansilla de las Mulas (vide postagens anteriores) onde está ainda em pé uma parte das muralhas medievais. Todas são cidades profundamente ligadas à peregrinação e merecem uma visita (Fotos 30 a 34), assim como a pequena Bercianos del Real Camino, com um dos albergues mais simples do caminho, mas que procura superar a sua diferença através do acolhimento, entre o jantar e a contemplação de um belo por do sol compartilhados (35 a 38).
Referencias bibliográficas.
BARROS, A. J. O enigma de Compostela. São Paulo: Geração Editorial, 2009.
BRITO, Sergio Jose de. O caminho de Santiago de Compostela: Rota do Novo Milênio. Curitiba: 2000.
MACLAINE, Shirley. O Caminho: uma jornada do espírito. Tradução de Renata Catanhede Amarante. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p.145