Iemanjá
Divindade das águas, tida como mãe de todos ou outros orixás. Na África, era um rio que para fugir de seu marido desembocou no mar, onde passou a viver junto de sua mãe Okun. No Brasil, é cultuada sobretudo no mar, sendo associada com outros “encantados” das águas, de origem indígena. Daí ser louvada também como a Rainha do Mar, Janaína, Mãe D´Água, Sereia, Iara, entre outras. No rito Jeje, a divindade da água salgada é Abe, representada pela estrela guia que caiu no mar. No rito angola, o mar é representado por Mãe Danda (Dandalunda ou Quissimbe). Devido à relação de Iemanjá com a maternidade, seu culto no Brasil foi aproximado ao de Nossa Senhora em suas várias louvações; mais precisamente, N.Sra. da Conceição e N. Sra. dos Navegantes.
A festa do Rio Vermelho é uma tradição mantida por iniciativa de alguns pescadores daquela localidade que se uniram como forma de não deixar que sua comemoração ou festa caísse no esquecimento como aconteceu com as das outras localidades como da Barra e da Amaralina, conforme conta Licídio Lopes, no seu livro “O Rio Vermelho e suas tradições”.
[...] Juntaram-se alguns pescadores comentando, quando um, por nome Alípio, que era apelidado Alípio Capenga (tratavam assim porque ele tinha uma perna paralítica), conversando com outros disse: Precisamos fazer uma festa para nós, não podemos ficar assim, já não podemos tomar parte nas festas do Rio Vermelho que os brancos tomaram conta. Uma hora dessa acaba, como as da Barra e de Amaralina; nós que temos responsabilidade com o Rio Vermelho, vamos fazer nossa festa separado. Os outros perguntaram: “Como?” Ele respondeu: “No dia 2 de fevereiro, que é dia de Nossa Senhora das Candeias, vamos nos organizar e dar um presente a Mãe d`Água”. Os outros aprovaram. Foi assim que nasceu a idéia do presente a Iemanjá, que hoje é uma das maiores festas populares da Bahia.
Os primeiros responsáveis pelas festas foram três pescadores: Alípio Capenga, Saturnino apelidado de Salu, e Florentino apelidado de Fulô e também Olavo e Clemente Tanajura, sendo que os dois últimos não eram pescadores, eram peixeiros, negociavam com peixe. Estes cinco, auxiliados pelos outros pescadores, conseguiram uma caixinha de papelão, cada um botou seu presente que constava de perfumes, pós-de-arroz, sabonetes, espelhos e outras coisas, botaram a caixinha dentro de um balaio, enfeitaram com muitas flores e fitas, fizeram muitos pedidos para Iemanjá ajudar, botaram no saveiro com bandeiras de papel, onde embarcaram os encarregados do presente. Outras embarcações levaram outros pescadores e as famílias, e os amigos que quiseram embarcar; foram batendo palmas, cantando sambas e soltando muitos foguetes. Quando chegaram no lugar apropriado, o saveiro que levava os presentes, que ia na frente dos outros, estancou a carreira, botaram as flores no mesmo lugar. Voltaram, chegaram em terra, fizeram um samba de roda, se divertiram até alta noite. Assim realizou-se o primeiro presente a Iemanjá no Rio Vermelho*
(*) Os primeiros presentes de Iemanjá foram realizados no bairro do Rio Vermelho, durante a década de 20.
LOPES, Licídio. Rio Vermelho e suas tradições; memórias. Salvador. Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1984, página 60.
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