"Nem eu nem ninguém pode viajar essa estrada por você. Você deve atravessá-la sozinho"

Walt Whitman

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Polvo, barro, sol y lluvia

Foto: Emanoel Braga

Polvo, barro, sol y lluvia
es Camino de Santiago.
Millares de peregrinos
y más de un millar de años.

Peregrino, ¿Quién te llama?
¿Qué fuerza oculta te atrae?
ni el Campo de las Estrellas
ni las grandes catedrales.

No es la bravura Navarra,
ni el vino de los riojanos
ni los mariscos gallegos,
ni los campos castellanos.

Peregrino, ¿Quién te llama?
¿Qué fuerza oculta te atrae?
ni las gentes del Camino
ni las costumbres rurales.

No es la historia y la cultura
ni el gallo de La Calzada
ni el palacio de Gaudí,
ni el Castillo Ponferrada.

Todo lo veo al pasar,
y es un gozo verlo todo,
mas la voz que a mi me llama
la siento mucho más hondo.

La fuerza que a mi me empuja
la fuerza que a mi me atrae,
no se explicarla ni yo
¡ Sólo el de Arriba lo sabe!

E.G.B.


(Poema escrito no muro da antiga fábrica de farinha, entrada de Nájera, atribuido ao Padre Eugenio Garibay Baños.)

Tradução
Poeira, lama, sol e chuva. É o Caminho de Santiago. Milhares de peregrinos, e mais de mil anos. Peregrino, Quem te chama? Que força oculta te atrae? nem o Campo das Estrelas, nem as grandes catedrais. Não é a coragem de Navarra, nem o vinho Rioja, nem marisco da Galiza, nem os campos de Castela. Peregrino, quem te chama? Que força oculta te atrae? nem o povo do Caminho, nem os costumes rurais. Não é história e cultura. Nem o galo de La Calzada, nem o Palácio de Gaudi, nem o Castelo de Ponferrada. Tudo o que vejo de passagem, é uma alegria ver tudo, mas a voz que me chama, eu sinto muito mais profundo. A força que me empurra, a força que me atrae, não pode ser explicado, Só Ele lá de cima sabe!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Caminho de Santiago de Compostela: um trabalho de consciência

Fotos e texto: Emanoel Braga


A tradição do Caminho de Santiago de Compostela como uma das maiores rotas de peregrinação do Ocidente desde a Idade Média está cada dia mais viva; gente disposta a refazer os passos de São Francisco de Assis, Santa Isabel de Castela, Santo Amaro, Santa Brígida, São Geraldo, Santo Domingo de La Calzada, San Juan de Ortega, João XXIII, Baby Consuêlo ou melhor Baby do Brasil, Shirley MacLaine, Paulo Coelho, entre tantos outros famosos, santos, beatos e anônimos. Segundo dados do escritório central da Catedral de Santiago, cerca de mil pessoas, em peregrinação, chegam atualmente à cidade, diariamente. A procura por este roteiro vem acontecendo há mais de um milênio. A rigor, desde o século IX, quando os peregrinos atravessaram a pé quase todo o norte da Espanha, sentido leste à oeste, rumo à Santiago de Compostela, o trajeto e os rituais ainda são os mesmos, nessa que é uma das três principais rotas de peregrinação cristã – as outras são Jerusalém e Roma. Mas, evidentemente, há diferenças. Agora, nem todo mundo vem em busca da salvação do espírito, embora este seja um dos objetivos, principalmente neste ano de 2010, cujo dia 25 de julho (dia de Santiago), cai exatamente num domingo, sendo chamado de Ano Santo Jacobino por determinação do Vaticano - Ruta Jacobea (ou Xacobea, em galego) como também é chamado o Caminho de Santiago (Jacobus é o nome do apóstolo em latim). Nestas ocasiões é concedida aos fiéis que visitarem a cidade a indulgência plena, ou seja, o perdão de todo o pecado. A tradição começou no século XII, através da bula Regis Æterna, decretada pelo Papa Alexandre III.
2º Parágrafo
Mas, afinal de contas, qual a razão dessa estrada ter se transformado em uma vereda da salvação? Segundo a tradição, o apóstolo Tiago (filho de Zebedeo e Salomé), irmão de São João Evangelista, após a crucificação de Jesus, passou seis anos pregando na Espanha. Retornando à Palestina foi decapitado por ordem de Herodes Agripa, que proibiu até mesmo que ele fosse enterrado. Pouco antes de morrer, Tiago pediu a dois de seus discípulos, Atanásio e Teodoro, que seu corpo fosse levado de volta à Ibéria. Seus restos, assim, teriam sido depositados numa tumba de mármore e levados num barco até a cidade de Iría Flávia – hoje Padrón - , às margens do Rio Ulla. A viagem seguiu por terra até um bosque chamado Libredón, onde, enfim, ele acabou sendo enterrado, no ano de 44 d.C. O lugar ficou esquecido durante séculos. Só em 813 um eremita de nome Pelayo, conforme a lenda, guiado por uma chuva de estrelas chegou ao bosque. No exato ponto onde caíram as estrelas vista por ele estava enterrado os despojos associado ao apóstolo Tiago Maior. Alfonso II, o Casto, rei das Astúrias, mandou construir no lugar uma capela de pedra e argila, assim nascei o mito de São Tiago do Campo das Estrelas, o local foi batizado de Compostela – do latim campus stella - numa referencia às luzes que guiaram o eremita.
3º Parágrafo
A mais conhecida das rotas é a francesa. O Caminho Francês ganhou muito de sua fama a partir do fim do século XI, quando o rei de León (Leão) e Castilla (Castelo), Alfonso VI, casou-se com a filha do Duque da Burgúndia e, assim, permitiu a entrada da poderosa ordem francesa dos Clunienses. Firmou-se então uma parceria: ao monarca caberia construir a infra-estrutura necessária para receber mais visitantes; e à ordem de Cluny, divulgar o caminho. Desta forma, Santiago transformou-se na terceira mais procurada rota religiosa da Idade Média. Um caminho que parte, de fato, de quatro pontos distintos na França: Paris, ao norte; Vézelay ao centro; e Le Puy e Arles, ao sul. Os três primeiros se encontram antes de cruzar os Pirineus, na cidade de Saint Jean Pied-de-Port, e continuam juntos até Puente La Reina, já na Espanha. Lá, a rota arlesiana, conhecida com Rota Aragonesa, se soma às demais, avançando até atingir a cidade santa, a poucos quilômetros do oceano Atlântico.

4º Parágrafo

Para aqueles que optarem em começar num dos Caminhos Franceses, porém já em território espanhol, o itinerário pode iniciar-se, bem bem em Somport (Huesca), a Rota Aragonesa, ou Roncesvalles – Vale das Rosas, no antigo dialeto navarro – a Rota Francesa - a mais tradicional e melhor estruturada - ambas localizadas nos Pirineus na fronteira com a França. Estas duas rotas de acesso se juntam em Puente La Reina: cidade onde “todos los caminos a Santiago se hacen um solo”, vila que deve seu nome à ponte que erguera Dona Mayor, esposa de Sancho III de Navarra, no século IX, para facilitar a passagem dos peregrinos sobre o Rio Argas. A partir deste ponto, o Caminho de Santiago ganha seu primeiro contorno místico: de acordo com o Codex Calixtinus, um guia escrito em 1135 pelo sacerdote francês, Aimeric Picaud, a viagem passa a ser uma representação, em terra, do desenho da Via Láctea. O guia divide a peregrinação em treze escalas principais. As etapas são várias, e podem ser realizadas de diferentes formas: a pé, cavalo ou bicicleta (peregrinação tradicional), ou bem de automóveis.
5º Parágrafo
Ao longo dos 800 km que separam Roncesvalles da cidade de Santiago de Compostela, o viajante percorre importantes províncias do Norte da Espanha, passando por algumas das regiões mais bonitas e ao mesmo tempo mais desconhecidas dos brasileiros como Navarra, La Rioja, Burgos, León, Palencia, Lugo, e La Coruña, as duas ultimas, na Galícia. O Caminho de Santiago foi decretado Conjunto Histórico-Artístico em 1992 e a cidade de Santiago de Compostela foi reconhecida pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Durante todo o trajeto, que bem pode ser considerado como um passeio pela história da Espanha, o visitante se depara com paisagens fantásticas, obras da arquitetura medieval, nos estilos românico e gótico, como castelos, mosteiros, catedrais, cidades amuralhadas ou ruínas celtas entre outros atrativos. Trilhar pelos caminhos de Roncesvalles, como exemplo, é voltar ao século VIII. Registra a história que, nos arredores da localidade, Carlos Magno combateu os celtas e fixou residência. A Capela do Espírito Santo teria sido construída por ele para servir de mausoléu ao herói Roldão, seu oficial, morto em combate no ano de 778 pelos bascos. A maioria dos prédios e monumentos foi erguida no período da Alta e Baixa Idade Média, quando ocorreu o auge da procura pela rota. No período de um século, antigas estradas romanas foram retomadas e muitas hospedagens, hospitais, igrejas, abadias e mosteiros foram erguidos ao longo do trajeto.
6º Parágrafo
O tempo de duração varia de acordo com a modalidade escolhida, aproximadamente 30/35 dias para quem o faz a pé, e 8 dias no mínimo para quem vai de carro. Quem optar por uma das modalidades da peregrinação tradicional recebe um documento oficial das confrarias espanholas, chamado de “Credencial del Peregrino”, que dá direito aos andarilhos de pernoitarem em albergues especiais, igrejas e monastérios ao longo de toda a Rota. Nele, há vários espaços em branco para serem carimbados os emblemas de igrejas, estalagens ou pessoas autorizadas nos lugares em que o peregrino pernoitar. Assim, mais tarde ao chegar em Santiago, o caminhante receberá a Compostelana, certificado oficial cedido pela Catedral de Santiago. É preciso percorrer pelo menos cem quilômetros a pé ou a cavalo ou duzentos quilômetros de bicicleta, um transporte cada vez mais comum no caminho.
7º Parágrafo
Muitos buscam o caminho na visão dos místicos. Onde, através da peregrinação, possa levar da desesperança à salvação, do pecado à redenção, do terreno ao divino. O limite entre o real e o imaginário continua indefinido até o ponto final, em Santiago. Em sua igreja, não importa a hora do dia, encontra-se uma pequena babel, com peregrinos de todos os pontos do mundo. Para muitas pessoas, a peregrinação a pé a Santiago de Compostela representou uma das experiências mais gratificantes de suas vidas. Porém, para realizar este sonho, ao mesmo tempo que um preparo físico e mental, é necessário um trabalho de consciência. É preciso ambientar-se com a rota. Ler sobre a história do Caminho e das peregrinações. Conhecer as experiências de outros peregrinos também pode ajudar bastante. Mas lembre-se: o motivo que o leva a percorrer a rota é pessoal. Percebe-se que, mais importante que chegar a algum lugar é simplesmente estar no caminho. Como disse Sidartha Guatama, o Buda, difusor da religião oriental que, em princípio, pouca coisa tem em comum com os preceitos cristãos que consagraram o Caminho de Santiago: “Você não pode seguir o caminho antes de ter se tornado o próprio caminho”. Não é possível seguir o Caminho de Santiago antes de ter se tornado parte dele. Um processo muito semelhante ao que acontece com cada peregrino, que, ao descobrir o caminho, descobre a si mesmo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Todo Risco

Foto : Caminho de Santiago - etapa Roncesvalles/Zubiri - Alberque Roncesvalles

A possibilidade de arriscar
é que nos faz homens.
Vôo perfeito

no espaço que criamos.
Ninguém

decide sobre os passos
que evitamos.
Certeza
de que não somos pássaros
e que voamos.
Tristeza
de que não vamos
por medo dos caminhos.



Damário da Cruz