"Nem eu nem ninguém pode viajar essa estrada por você. Você deve atravessá-la sozinho"

Walt Whitman

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ano Santo ou Ano Compostelano

( Foto 01)

O Ano Santo ou Ano Compostelano é o mais antigo na história e o que se celebra com mais freqüência. Foi temporalmente instituído pelo Papa Calixto II em 1119 e ratificado pelo Papa Alexandre III em 1179 pela Bula "Regis Aeterni". Deste modo se estabelece de forma definitiva o que instituiu o Ano Jubileu, o Ano Santo, ano de referência espiritual em Santiago de Compostela.

Cada vez que a festa de Santiago, 25 de julho, ocorre em um domingo, é considerado o Ano Santo. Este evento tem uma freqüência de 6, 5, 6, 11, anos, de modo que, no final do século passado, se comemorou em 1993 e 1999. Neste século, o primeiro Ano Santo foi em 2004, agora em 2010 (Fotos 01 a 05 – Festa da Comemoração) e o próximo só ocorrerá em 2021, assim sucessivamente, sendo o último em 2094.

De todos os jubileus comemorados em Santiago de Compostela que se somam até o momento, em torno de cento e dezessete, existiram dois, cuja realização do 25 de julho, a festa do Apóstolo, não se encontrou no domingo. Foram a redescoberta dos restos mortais do Apóstolo, no século XIX, sob o pontificado do arcebispo Miguel Payá y Rico (*), e em 1937, em plena guerra civil espanhola.

Assim, na tarde de 31 dezembro de 2009, com o ato simbólico de abertura da Porta Santa (Foto 09) o Ex.ª Rev.ma, Arcebispo iniciou o novo Ano Santo (Fotos 06 a 08). Um ano do perdão, indulgência e renovação para todos que chegam como peregrinos a Santiago de Compostela

(*) “Durante seu arcebispado em Santiago de Compostela
foram redescobertos os restos do apóstolo São Tiago. Empreendendo obras no altar maior em janeiro de 1879, encontram uma urna com ossos humanos, e parecia possível que estivessen diante dos restos do apóstolo São Tiago. Payá encarregou a Universidade de analisar os restos e, com os resultados obtidos, o papa Leão XIII em 1884 anuncia a todo o mundo católico o descobrimento dos restos do apóstolo por meio da bula “Deus Omnipotens”. Supõe-se que este seja o começo das atuais peregrinações à cidade.”

Fontes de pesquisa: Folhetos informativos e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Pay%C3%A1_y_Rico, acessado em 28/07/2010.

Comemoração dia 25 de Julho

Todas as fotos foram acessadas do site: http://www.galiciahoxe.com/fotos/gh/compostela-vivio-mejores-fuegos-su-historia/idGaleria-3710/ , em 27 de Julho de 2010.

(Foto 02)

(Foto 03)


(Foto 04)

(Foto 05)



Porta Santa - Catedral de Santiago

(Fotos 06 a 08): As fotos da cerimônia de abertura da Porta Santa são de: Ramon Escuredo / Fernando Blanco - El Correo Gallego, foram acessadas pelo site: http://meiabotabotaemeia.blogspot.com/2010/02/ab-ps.html, em 28 de julho de 2010.

(Foto 09): Emanoel Braga.



( Foto 06)


(Foto 07)

(Foto 08)


(Foto 09, em 25 de abril de 2010)


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lugares acolhedores I

Foto: Emanoel Braga - Samos

Foto: Emanoel Braga - Hospital de Órbigo

Foto: Emanoel Braga - El Acebo

Não existe um truque para tornar sua viagem significativa, é aprender a ver por si mesmo... a diferença entre peregrino e turista está na qualidade da atenção, no propósito da curiosidade.


COUSINEAU, Phil. A arte da Peregrinação: para o viajante em busca do que lhe é sagrado. [Tradução de Luiz Carlos Lisboa]. São Paulo: Ágora, 1999. p.124

Casas de Tapas

Foto: Emanoel Braga - Puente la Reina

Foto: Emanoel Braga - Burgos

Para que os mais apresados não façam uma tradução errônea associando “Tapas” com “Taipas” acreditando que o estabelecimento comercial é construído nos antigos moldes da arquitetura trazida pelos portugueses, relegada como técnica primitiva e desprezada não só pelas elites, mas até mesmo pelas camadas populares, pois este tipo de construção ficou ligado à miséria, os tapas, na Espanha, são os nossos conhecidos tira-gostos.

Normalmente os restaurantes espanhóis costumam só servirem as refeições em horários específicos. Pela manhã das 11 às 14 horas e a noite a partir das 19 horas. Porém, existem inúmeros lugares onde se pode comer o dia todo, mas os mais simpáticos e, ao mesmo tempo, mais característicos são as casas de “tapas”. No mínimo encontramos uma grande variedade de pequenos pratos, digo pratinho mesmo, dando a oportunidade para degustar mais de um tipo ou sabores.

Criados na Andaluzia no século XIX, os petiscos também são chamados de pinchos. Foram incorporados aos costumes através dos garçons que costumavam tampar o copo do xerez (1) com um pires, ou tapas (tampar) por causa das moscas. Assim alguns pedaços de queijos ou azeitonas começaram a serem acrescentados como acompanhamento da bebida. Hoje grandes variedades de petiscos são encontrados em bares e restaurantes, que vão dos camarões grelhados, rins grelhados e temperados com ervas, “jamon serrano” (os embutidos como salames, presuntos, etc.), queijos, pães com diversos molhos; os pratos frios aos caprichados pratos quentes de carnes, peixes e verduras.

(1) “O xerez (em castelhano
jerez e inglês sherry) é um tipo de vinho fortificado, licoroso típico da Espanha, envelhecido no sistema de soleira. Seu nome é derivado da região onde é elaborado, Xerez da Fronteira, em castelhano Jerez de la Frontera”. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Xerez, acessado em 26/07/2010.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

(01) Etapa: Pamplona - Serra do Perdão

Foto: Emanoel Braga - etapa Alto do Perdão
Sierra del Perdón

Serra, próxima a cidade de Pamplona, que abriga o vasto Parque Eólico de Villanueva, composto por 40 sofisticados geradores de energia elétrica (Foto 02 e 03). No caminho do serra do Perdão fica o povoado de Zariquiegui onde possui uma bonita igreja em estilo românico, dedicada a San Miguel (Foto 01). No alto da colina do Perdão um surpreendente conjunto de 14 figuras em ferro de tamanho natural, obra do artista Vicente Galdete (Foto 04), mostra uma caravana de peregrinos de distinta época, representando a evolução do caminho ao longo da história, concorre com os sofisticados geradores de energia elétrica conforme diz o autor Paulo Roberto T. Silva no seu livro: Ruta Jacobea: O Caminho de Santiago de Compostela: “[...] se D. Quixote voltasse aos campos da Espanha, ficaria admirado pela imponência do visual e o som das imensas pás metálicas cortando o ar; uma nova geração de seus antigos monstros”. Ao oriente, descortina uma linda visão da região de Navarra (Foto 05) e, ao longe em direção ao ocidente avista os campos de La Rioja, uma imensa planície na qual aponta as três povoações antes de alcançar Puente La Reina (Uterga, Muruzábal e Óbanos); vales muitos distintos, divisores de dois mundos.


SILVA, Paulo Roberto T. Ruta Jacobea: O Caminho de Santiago de Compostela. Rio de Janeiro: P.R.T.Silva, 1999, p.35.

(02) Etapa: Pamplona - Serra do Perdão

Foto 01 - Igreja de San Miguel em Zariquiegui

Foto 02 - Vista da Serra do Perdão

Foto 03 - Geradores eletricos

Foto 04 - Escultura peregrinos Alto do Perdão

Foto 05 - Vista panorâmica da região de Navarra

quinta-feira, 22 de julho de 2010

(1) Entre tantos amigos do caminho ...

Foto: Primeiros companheiros em Zubiri (*)

Foto: primeiros companheiros em Zabaldika

Foto: companheiros peregrinos entrada de Logroño (Dona Felícia)


Apropriando de alguns títulos musicais, diria que o Caminho de Santiago se resume entre "Encontros e Despedidas" (Milton Nascimento e Fernando Brant), e que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Por que se você parar prá pensar, na verdade não há..." (Renato Russo)
(*) Foram preservados os nomes

(2) Entre tantos amigos do caminho...

Foto: Brasileira/Baiana em Puente La Reina

Foto: Companheiros peregrinos em Burgos

Foto: Hospedeiros de Bercianos del Camino Real

Foto: Companheiros peregrinos entrando na Galícia

Foto: Almoço de confraternização em Santiago


quarta-feira, 21 de julho de 2010

Estrada imaginária....

Foto: Emanoel Braga - Cruz de Ferro


"A peregrinação é uma estrada imaginária, com pedras verdadeiras em seu leito"

COUSINEAU, Phil. A arte da Peregrinação: para o viajante em busca do que lhe é sagrado. [Tradução de Luiz Carlos Lisboa]. São Paulo: Ágora, 1999. p.87

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Las flechas amarillas

Foto: Emanoel Braga - etapa Melide / Pedrouzo


Para falar sobre este símbolo que nos faz desenvolver, entre tantos outros ensinamentos do Caminho de Santiago, o exercício da observação, transcrevo as palavras da educadora Jussara Hoffman, por concordar absolutamente com a mestra e não encontrar nenhuma outra definição mais esclarecedora sobre as setas.
“Um dos aspectos mais fascinantes do Caminho de Santiago é o fato de todo o trajeto estar demarcado por setas amarelas que guiam os caminhantes. [...] As setas foram criação dos peregrinos, mas foram oficializadas em 1984 e, hoje, são reforçadas periodicamente por um grupo de voluntários. Além deles, muitos que fazem o caminho reforçam e criam novas setas, com fitas, pedras e de outras maneiras.
As setas estão por todo o caminho, a tal ponto que é difícil perder o rumo. Elas estão desenhadas nos muros das casas, no chão, nas árvores, nas pedras, nas cercas... Basta procurar por elas de trechos em trechos ou nas encruzilhadas do caminho.
O que elas dizem de mais forte é que estamos indo na direção certa. Seguindo-as, muitos peregrinos, a pé, a cavalo, de bicicleta, cada um do seu jeito e a seu tempo, chegam a Santiago há milhares de anos.
As setas também nos dizem que fazemos parte de uma experiência da humanidade, que muitos outros já viveram ou estão vivendo. Mesmo o peregrino solitário sente-se acompanhado, porque elas indicam que outros já passaram por ali e outros tantos passarão.
De início, chegamos a duvidar que elas estarão demarcando o caminho todo o tempo, por tantos e tantos quilômentos, e temos de confirmar nos mapas os trajetos ou perguntar a direção às pessoas dos vilarejos. Mas, com o passar dos dias, aprendemos a confiar de tal maneira nas setas que não se precisamos mais procurar por elas, como se viessem ao nosso encontro, e magicamente, nos acompanhassem. Nesse momento, então o desconhecido, o inesperado, não assustam mais, porque a confiança de que as setas nos manterão no rumo certo.”

HOFFMAN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto alegre: mediação, 2001, p.15 e 16.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Caminhos ...

Foto: Emanoel Braga - etapa Hontanas / Boadilla del Camino

"O peregrino é um viajante poético, alguém que acredita haver poesia na estrada, no coração de tudo".

COUSINEAU, Phil. A arte da Peregrinação: para o viajante em busca do que lhe é sagrado. [Tradução de Luiz Carlos Lisboa]. São Paulo: Ágora, 1999, p.125.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ao chegar a uma nova cidade ...

Foto Emanoel Braga - Catedral de León


[...] Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.



CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis, São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.28.

As cidades e a memória: Pamplona

Foto 1 - Praça do Castelo - Pamplona


Em meio a aridez que predomina as paisagens aragonesa, o Ajuntamiento de Pamplona, cidade na província de Navarra, se difere das demais cidades por se integrar numa zona nortenha, onde a água é abundante.

O núcleo primitivo da cidade se remonta aos primeiros milênios a.C., atribuindo a sua fundação a Cneo Pompeyo, daí o nome Pamplona “A cidade de Pompeyo”.

Cidade amuralhada no período medieval, ainda conserva orgulhosa os traçados originais das suas ruas, um tanto tortuosas e confusas, onde suas ladeiras exibem belos edifícios de fachadas neoclássicas, uma igreja gótica excepcional; obras arquitetônicas que enriquecem esta velha cidade (Foto 2).

Pamplona paira um clima de festa e da boa vida; como os eternos delírios das largadas dos touros, a loucura coletiva, em cada mês de julho, na festa de San Fermín (Foto 3), durante a qual, segundo informações dos seus moradores, se podem provar dos melhores caldos da Espanha e a tomatina, guerra de tomates também conhecida internacionalmente.

Porém, na Praça do Castelo e no Parque da Toconera (local que dá as boas vindas ao peregrino ao transpor a Puente de La Magdalena , chega-se às duas linhas de fortificação que circunda a área mais antiga da cidade, após cruzar o fosso por uma ponte levadiça, adentra a cidade a partir do Portal de Francia), a vida decorre tranqüila, onde pássaros, crianças e idosos gozam o sol, quando este aparece. (Fotos 4 a 6)

Desde a Idade Média é ponto estratégico no Caminho de Santiago. Hoje os serviços turísticos e a indústria movimentam a vida econômica da cidade.
Fotos: Emanoel Braga

As cidades e a memória: Pamplona

Foto 2 - Plaza del Ayuntamiento de Pamplona

Foto 3 - Escultura Corrida dos Touros


Foto 4 - Puente de la Magdalena


Foto 5 - Muralhas da cidade de Pamplona


Foto 6 - Ponte levadiça - Pamplona

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A arte de ser feliz

Foto: Emanoel Braga - El Acebo (Caminho de Santiago)
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz..
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Morimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

MEIRELES, Cecília. Escolha o seu sonho. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1968. p.25

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Elaboração de Jantares


Entre os muitos rituais de passagens que vivificamos no Caminho de Santiago, os relacionados a elaboração dos almoços/jantares compartidos é sem dúvidas bastantes significativos. Alguns albergues propocionam tais rituais, como exemplo: o de Bercianos del Real Camino e o de El Acebo. São momentos que nos fazem lembrar das palavras do escritor Felipe Fernándes-Armestro, no livro Comida:uma história, na qual diz: “O ato de cozinhar não é apenas uma forma de preparar o alimento, mas também uma maneira de organizar a sociedade em torno de refeições em conjunto e de horários de comer previsíveis. Ele introduz novas funções especializadas, prazeres e responsabilidades compartilhados”. Momentos que vão muito além da simples disponibilização da mão de obra.

Elaboração de Jantares

São exercícios onde estão envolvidos organização, criatividae, tomada de decisão, valorização do ser humano, equidade, absorção de cultura, bem como, conhecimentos sobre as etapas futuras, entre outros.
Foto no albergue de El Acebo

Foto no albergue de El Acebo
Foto no albergue de Bercianos del Real Camino
Foto no albergue de Bercianos del Real Camino